Nós, participantes do X Seminário Catarinense de Agroecologia (X SCA) realizado
nos dias 13 e 14 de maio de 2022 nas dependências do Centro de Ciências
Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), no
município de Lages, gostaríamos de manifestar publicamente os principais
resultados do nosso grande e belo encontro.
Fomos mais de 500 participantes que decidiram se reunir de forma presencial
seguindo os protocolos de saúde pública após uma aguda fase da pandemia da
Covid-19 que já causou a morte de mais de 670 mil pessoas no país. O Brasil
atingiu essa terrível marca após dois anos e três meses da crise que abalou o
mundo, mas foi especialmente letal onde isolamento social, realização de testes,
uso de máscaras, compra de vacinas e comunicação oficial foram conduzidos de
forma desastrosa.
. Isso motivou a realização do seminário.
O tema central do nosso evento foi “Agroecologia para vida: conservação,
manejo e uso da biodiversidade na promoção da saúde”. Foram apresentadas
seis palestras na forma de mesas redondas, com temas relacionados a aspectos
produtivos, ambientais e sociais, debates sobre mercados, políticas públicas e
gestão de riscos na agroecologia e uma roda de conversa sobre agroecologia e
feminismos.
Foram realizadas oficinas que totalizaram 21 contribuições técnicas com os
seguintes temas: agricultura familiar e agricultura urbana não pagam IPTU;
agricultura urbana e urbanismo agroecológico; agroecologia como conhecimento
dos povos tradicionais; alimento, saúde e cultura; avaliação da qualidade do solo;
biodiversidade e conservação do solo; bioinsumos; cadeias curtas de
comercialização e agregação de valor; certificação participativa; conservação e
manejo de frutas nativas da região Sul; cooperação agrícola; culinária como
ferramenta de resistência e PANCs; educação do campo e experiências
educacionais em agroecologia; fixação simbiótica de nitrogênio; homeopatia na
agricultura e ambiente; legislação de sementes crioulas e comercialização;
monólitos de solo: coleta, preparo e exposição didática; recuperação de mata ciliar e
nascentes; sistema de plantio direto de hortaliças – SPDH; sistemas agroflorestais
para clima temperado/subtropical e mecanização para agroecologia; e vivências
práticas com ervas medicinais.
Juntamente com o X Seminário Catarinense de Agroecologia, nós realizamos a
Feira da Economia Solidária e da Agricultura Familiar, além de exposição das
seguintes entidades: Assembléia Legislativa de Santa Catarina; Bioinsumos Dudu e
Gre; Cooperdotchi; Cresol; Cuias Bandeirante; Curso técnico de Agroecologia IFSC
Lages; Dinamisa Agrominerais; Fórum Parlamentar de Agroecologia de Santa
Catarina; IFC Rio do Sul; Knapik Máquinas Agrícolas; Livraria Marcelino Chiarello;
Movimento das Mulheres Camponesas; Pilar Substratos; Raix Mix Adubação Verde;
e Universidade Federal da Fronteira Sul. Além disso, oito grupos de agricultores
familiares participaram da feira. Houve também a feira de sementes crioulas,
organizada pelo IFSC Lages e IFC Rio do Sul.
Na programação técnico científica houve apresentação de 31 trabalhos agrupados
nas seguintes áreas temáticas: agricultura urbana e periurbana; agrotóxicos e
transgênicos; sociobiodiversidade, extrativismo, povos e comunidades tradicionais;
soberania e segurança alimentar e nutricional; ambiente, paisagens e territórios;
economias dos sistemas agroalimentares de base agroecológica; conservação da
agrobiodiversidade; manejo de agroecossistemas de base ecológica; mulheres,
feminismos e agroecologia; políticas públicas e agroecologia e saúde dos
ecossistemas. Os trabalhos serão submetidos à publicação na revista “Ambientes
em Movimento”, vinculado ao Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de
Santa Catarina, localizado no município de Curitibanos.
Embora saibamos que muito se tem avançado para o fortalecimento da
agroecologia, consideramos que há ainda um longo caminho a percorrer face à
crise civilizatória na qual nos encontramos e que vem apresentando reflexos
negativos em toda a Ecosfera.
Isso implica na superação de desafios, tais como:
– Reconhecer as vulnerabilidades e crises atuais, manifestadas nas esferas
econômica, social, cultural, política, ambiental, sanitária, alimentar e que se
refletem no modelo convencional de produção, processamento, distribuição e
comercialização de alimentos;
– Difundir, discutir, estimular a implementação de Marcos Legais já previstos
em prol dos direitos humanos e da natureza, sobretudo em defesa e
promoção da agroecologia;
– Garantir direito e respeito à diversidade cultural;
– Acelerar a reforma agrária para fundamentar uma agricultura com gente, vida
digna e soberania alimentar;
– Fortalecer atividades no meio rural que possibilitem a geração de trabalho e
renda de forma digna e solidária;
– Conscientizar a população com relação à saúde dos ecossistemas, a
conservação ecológica e a produção de alimentos saudáveis conforme os
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS 2030);
– Implementar e ampliar políticas públicas voltadas para relações mais justas e
solidárias entre produtores e consumidores, com governança alimentar
baseada no interesse da população, para atender os diferentes interesses do
rural brasileiro e não apenas com as commodities voltadas para exportação;
– Intensificar a agroecologia com a perspectiva de se produzir alimentos
saudáveis com conservação da natureza, novas relações entre campo e
cidade voltadas para autonomia dos povos e o cuidado com a mãe terra;
– Articular as ações de ensino, pesquisa e extensão em agroecologia em todos
os ambientes educacionais e na sociedade;
– Promover a participação e o engajamento dos movimentos sociais populares
para a construção de soluções diante das inúmeras crises do capitalismo;
– Valorizar os saberes ancestrais dos povos originários e de todas as
comunidades tradicionais;
– Mobilizar e articular a juventude, as mulheres e os homens estimulando seu
protagonismo na promoção da agroecologia;
– Promover a correlação entre saúde humana e alimentação saudável,
estimulando estudos e sensibilizações para a diminuição da medicalização e
do uso indiscriminado de agrotóxicos;
– Apoiar ações de imersão/vivências em áreas de produção e conservação
ecológica, como instrumento de promoção da saúde.
Como forma de encaminhar os resultados do X SCA, propomos definir um grupo de
trabalho que ficará responsável por dar continuidade ao processo de articulação da
agroecologia em Santa Catarina, realizando as seguintes ações:
– Coordenar uma pesquisa de satisfação sobre o X SCA que subsidie a
próxima edição do evento;
– Identificar o máximo possível de entidades de Santa Catarina que atuam com
agroecologia e seus respectivos representantes;
– Estabelecer e acompanhar um cronograma de reuniões em todas as
macrorregiões de Santa Catarina para definir compreender a forma de
atuação das principais entidades, identificar temas de interesse e promover a
interlocução entre as mesmas;
– Auxiliar na definição do local e entidade que sediará o XI SCA (sugestão de
definir até 14 de maio de 2023, um ano após a realização do X SCA);
– Organizar eventos de discussão sobre agroecologia, bem como ações
microrregionais preparatórias para o próximo seminário de agroecologia até a
realização da XI edição;
– Desenvolver campanhas de comunicação que informem os acontecimentos
relacionados à Agroecologia em Santa Catarina a partir das diferentes formas
de mídia;
– Mobilizar participantes e entidades para formação e consolidação da
Articulação Catarinense de Agroecologia, de forma conjunta com Associação
Brasileira de Agroecologia (ABA), Articulação Nacional de Agroecologia
(ANA) e outras instituições da sociedade civil;
– Levantar novas temáticas que possam se somar à agenda da agroecologia,
tais como: alimentação saudável e inclusiva; consumo de animais;
diversidade e protagonismo dos povos do campo e das florestas; uso das
frutas nativas para novas gastronomias; combate ao desperdício nas
diferentes etapas dos processos produtivos dos alimentos; viabilidade social,
ambiental, gestão da agroecologia no território e econômica de base
agroecológica.
Por fim, na medida em que o X SCA foi realizado nas dependências da
UDESC, ressaltamos que a universidade é um espaço primordial de debates para
intercambiar conhecimentos e experiências na área agroecológica, bem como para
analisar cientificamente a questão alimentar e subsidiar as agendas políticas das
organizações da sociedade civil, dos Estados e dos mercados.
Defender a agroecologia, é defender um futuro possível para a vida!
Lages, 13 de dezembro de 20222.
(Em função do período da pandemia da Covid-19, a organização do X SCA foi realizada de forma
híbrida, sendo a conclusão da carta realizada em data posterior ao evento.)